
O nosso comportamento natural é fugir das dificuldades, escapar aos problemas e evitar o sofrimento e a tristeza. É até compreensível, não queremos nada que seja desconfortável. Mas será que passar por estas situações nos pode trazer algum resultado positivo?
Vejamos o que nos diz Salomão, no livro de Eclesiastes:
“Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem em consideração. Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração. O coração dos sábios está na casa do luto, mas o dos insensatos, na casa da alegria. Melhor é ouvir a repreensão do sábio do que ouvir a canção do insensato.” (Eclesiastes 7: 2-5)
O que o autor está aqui a fazer não é a exaltação do sofrimento, ou a apelar aos leitores que sejam pessoas tristes. O que nos está a dizer é que aprendemos muito mais com as dificuldades e os problemas da vida, do que com os momentos de alegria, em que tudo parece correr bem.
A verdadeira sabedoria desenvolve-se no meio das dificuldades. São as situações difíceis que nos obrigam a encontrar soluções, e é a nossa impotência perante os problemas que nos põe de joelhos diante do Pai.
Quando estamos alegres e tudo corre bem, não pensamos tanto no que nos acontece, não temos uma noção tão forte do quanto somos dependentes de Deus.
Melhor é ir à casa onde há luto
“Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem em consideração.” (Eclesiastes 7: 2)
Qual de nós prefere ir à casa de uma família enlutada, em vez de ir a uma casa onde há uma grande festa? Muito poucos, seguramente. Então porque nos diz o autor que é melhor ir à casa onde há luto?
Na casa onde há luto, tristeza e fragilidade, o coração do Homem é forçado a pensar na sua situação. A consciência da sua finitude, e de que um dia também irá partir, pode ajudar a olhar para a vida de outra forma.
Não no sentido de “comamos e bebamos, que amanhã morreremos” (1 Coríntios 15: 32), ou seja, com a falsa ideia de que temos que nos entregar aos prazeres deste mundo, para aproveitar a vida ao máximo enquanto dura. Esse é um sentido errado para a vida, e que nunca trará a verdadeira satisfação.
Sendo limitada a duração da nossa vida na Terra, e não sabendo quando Deus nos vai levar, devemos arrepender-nos dos nossos pecados e entregar-lhe a nossa vida enquanto é tempo. Só Ele pode trazer verdadeiro propósito e satisfação às nossas vidas.
Quando já somos Seus filhos, regenerados pela Sua imensa graça, o que devemos fazer é viver uma vida focada em sermos mais parecidos com o nosso Senhor Jesus Cristo. Devemos viver para dar-Lhe glória com a nossa forma de viver, levando a Sua mensagem a quem não a conhece.
Melhor é a mágoa do que o riso
“Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração.” (Eclesiastes 7: 3)
Preferimos passar por fases da vida que nos trazem poucas dificuldades, e em que aparentemente tudo nos corre bem. As dificuldades que nos trazem sofrimento são sempre encaradas como penosas e até como algo que achamos não merecer.
Mas segundo a Palavra de Deus, esses momentos de mágoa e de sofrimento podem ser oportunidades para fazer um coração melhor. Temos mais possibilidade de aprender e de crescer quando temos dificuldades na vida. E sobretudo, mais oportunidades de nos aproximarmos do nosso Deus.
Falando a propósito de um problema que tinha, e a que chamou de espinho na carne, o apóstolo Paulo disse que por três vezes tinha pedido ao Senhor que o afastasse dele. A resposta do Senhor, no entanto, foi: “A Minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Coríntios 12: 9). Não sabemos o que era, mas sabemos que Deus não quis libertá-lo.
A vontade de Deus, não levou o apóstolo a revoltar-se, mas sim a dizer: “(…) mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte.” (2 Coríntios 12: 9-10)
O sofrimento acaba por ter um efeito mais transformador no nosso coração, do que a alegria, e leva-nos para mais perto do nosso Deus. Se for da Sua vontade que passemos por dificuldades, demos-Lhe graças de igual forma.
Melhor é ouvir a repreensão do sábio
“Melhor é ouvir a repreensão do sábio do que ouvir a canção do insensato.” (Eclesiastes 7: 5)
Mais uma vez, desconforto. Alguém gosta de ser repreendido pelas suas ações? Tipicamente, preferimos que concordem connosco, que nos deem palmadinhas nas costas, mesmo que saibamos que não estamos a agir corretamente. Preferimos a “canção do insensato”.
Mas a repreensão do sábio, segundo Deus, deve ser ouvida e levada em consideração.
Mais vale uma conversa dura com quem nos mostra o caminho certo de acordo com a vontade de Deus. Com quem nos mostra que estamos errados nos nossos comportamentos, e de como devemos ser diferentes. Do que com alguém que nos diz sempre que sim, aprova tudo o que fazemos, e nos deixa caminhar enganados.
O mesmo Salomão, escritor de Provérbios, diz no capítulo 27 e versículo 5: “Melhor é a repreensão franca do que o amor encoberto”. Não há resultado prático, ou mudança de vida, em amar muito mas não repreender.
Mais tarde, já no Novo Testamento, Paulo escreve a Timóteo: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça,” (2 Timóteo 3: 16). A repreensão, segundo a Escritura, segundo a sabedoria de Deus, é proveitosa para as nossas vidas. Ainda que possa ser desagradável ou dura de receber no momento (Hebreus 12: 11).
Sabemos pela Palavra de Deus, que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” (Romanos 8: 28)
Se Deus por vezes nos dá problemas e dificuldades para resolver, se nos dá luto e tristeza de coração, se nos envia pessoas capazes de nos repreender, vejamos isso como uma oportunidade de crescimento em Cristo, de transformação para melhor, e de aproximação ao nosso Deus.
Crédito de imagem: Francisco Moreno