
Sabemos que obedecer às autoridades é um mandamento de Deus: “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas.” (Romanos 13: 1). Já falámos sobre este assunto no artigo anterior. Todas as autoridades são instituídas por Deus e por isso devem ser respeitadas e obedecidas.
Mas fica a questão, como devemos proceder se as autoridades nos derem ordens contrárias à Sua vontade? Se nos proibirem de O adorar, se nos mandarem negá-Lo, se nos impedirem de divulgar a nossa fé ou os mandamentos deixados na Sua Palavra, o que devemos fazer? Vamos analisar um exemplo registado na Bíblia, para nos ajudar a responder a esta questão.
Os três amigos de Daniel
No ano 605 a.C., o Império Babilónio iniciou as suas investidas contra Judá, e levou o primeiro grupo de prisioneiros para a Babilónia. Houve ainda mais duas invasões em 597 a.C. e 586 a.C. mas Daniel e mais três amigos, de que falamos neste episódio, foram transportados no primeiro grupo.
Logo desde a sua chegada, Daniel e os seus amigos foram obedientes a Deus. Por serem jovens de classe social mais alta, foram separados para servir no palácio do rei. Mas como a comida que lhes estava destinada não estava de acordo com as leis de Deus, logo aí eles decidiram não se contaminar. Podemos ver mais pormenores no capítulo 1 de Daniel.
Depois de Daniel ter interpretado um sonho do rei Nabucodonosor, “(…) o rei engrandeceu a Daniel, e lhe deu muitos e grandes presentes, e o pôs por governador de toda a província da Babilônia, como também o fez chefe supremo de todos os sábios da Babilônia.” (Daniel 2: 48)
“A pedido de Daniel, constituiu o rei a Sadraque, Mesaque e Abede-Nego (os seus três amigos) sobre os negócios da província da Babilônia; Daniel, porém, permaneceu na corte do rei.” (Daniel 2: 49)
No capítulo seguinte, vemos um episódio que pôs à prova a fé dos amigos de Daniel, e que nos mostra o que devemos fazer quando as autoridades nos impelem a infringir a lei de Deus.
O rei Nabucodonosor fez uma imagem de ouro que tinha 27 metros de altura e levantou-a no campo de Dura, na província da Babilônia. Então, o rei Nabucodonosor mandou juntar governadores, juízes, tesoureiros, magistrados, conselheiros e todos os oficiais das províncias do reino, para que viessem à consagração da imagem que tinha levantado.
Todos os convocados apresentaram-se em pé, diante da imagem, para a sua consagração. “Nisto, o arauto apregoava em alta voz: Ordena-se a vós outros, ó povos, nações e homens de todas as línguas: no momento em que ouvirdes o som da trombeta, (…) e de toda sorte de música, vos prostrareis e adorareis a imagem de ouro que o rei Nabucodonosor levantou. Qualquer que se não prostrar e não a adorar será, no mesmo instante, lançado na fornalha de fogo ardente.” (Daniel 3: 4-6)
A ordem era clara. Todas as pessoas, de todas as nações, deviam adorar a imagem de Nabucodonosor. E o castigo evidente. Quem não o fizesse seria lançado numa fornalha ardente, para morrer queimado. Era uma ordem real, tinha de ser cumprida. Por isso, quando os povos ouviram o som dos instrumentos, se prostraram e adoraram a imagem de ouro que o rei Nabucodonosor tinha levantado.
Mas, não todos! Diz-nos o texto que, “(…) no mesmo instante, se chegaram alguns homens caldeus e acusaram os judeus;” (Daniel 3: 8). “Há uns homens judeus, que tu constituíste sobre os negócios da província da Babilônia: Sadraque, Mesaque e Abede-Nego; estes homens, ó rei, não fizeram caso de ti, a teus deuses não servem, nem adoram a imagem de ouro que levantaste.” (Daniel 3: 12) A ordem real era clara, mas não tinha sido cumprida por estes homens.
Perante esta situação, o rei “irado e furioso, mandou chamar Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. E trouxeram a estes homens perante o rei.” (Daniel 3: 13) Então, “Falou Nabucodonosor e lhes disse: É verdade, ó Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, que vós não servis a meus deuses, nem adorais a imagem de ouro que levantei? Agora, pois, estai dispostos e, quando ouvirdes o som da trombeta, do pífaro, da cítara, da harpa, do saltério, da gaita de foles, prostrai-vos e adorai a imagem que fiz; porém, se não a adorardes, sereis, no mesmo instante, lançados na fornalha de fogo ardente. E quem é o deus que vos poderá livrar das minhas mãos?” (Daniel 3: 14-15)
O rei voltou a insistir com eles para que adorassem a estátua, e caso isso não acontecesse, disse-lhes que seriam lançados na fornalha de fogo ardente para morrerem. E mais, ainda questionou qual seria o deus que os poderia livrar das mãos dele.
Mas o inesperado, aos olhos do rei, aconteceu. Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, mesmo sob ameaça de morte, continuaram a não querer obedecer ao rei. A ordem que estavam a receber implicava adorar alguém que não Deus, e só Deus é digno de adoração.
“Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o Senhor, teu Deus” (Êxodo 20: 4-5).
Por isso Sadraque, Mesaque e Abede-Nego desobedeceram à autoridade instituída, porque ela era contrária ao mandamento recebido de Deus.
Mas também não discutiram com o rei, não lhe chamaram injusto, nem o provocaram ou desrespeitaram publicamente. A resposta veio com respeito, mas firme: “Ó Nabucodonosor, quanto a isto não necessitamos de te responder. Se o nosso Deus, a Quem servimos, quer livrar-nos, Ele nos livrará da fornalha de fogo ardente e das tuas mãos, ó rei. Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste.” (Daniel 3: 16-18)
Então, Nabucodonosor se encheu de fúria e ordenou que se acendesse a fornalha sete vezes mais do que era habitual. Depois ordenou aos homens mais poderosos, que estavam no seu exército, que atassem a Sadraque, Mesaque e Abede-Nego e os lançassem na fornalha de fogo ardente.
Os homens do rei assim fizeram, e lançaram os três amigos atados na fornalha acesa. Mas as chamas eram tão fortes, que os homens que os lançaram na fornalha morreram logo ali.
Foi nessa altura que Deus decidiu mostrar o Seu poder e proteger os Seus filhos obedientes. “Então, o rei Nabucodonosor se espantou, e se levantou depressa, e disse aos seus conselheiros: Não lançamos nós três homens atados dentro do fogo? Responderam ao rei: É verdade, ó rei. Tornou ele e disse: Eu, porém, vejo quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, sem nenhum dano; e o aspeto do quarto é semelhante a um filho dos deuses.” (Daniel 3: 24-25)
“Então, se chegou Nabucodonosor à porta da fornalha sobremaneira acesa, falou e disse: Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, servos do Deus Altíssimo, saí e vinde! Então, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego saíram do meio do fogo.” (Daniel 3: 26)
Toda a multidão se juntou admirada e viu que o fogo não tinha feito nada de mal aos corpos daqueles homens, nem sequer foram chamuscados os cabelos da sua cabeça! Então Nabucodonosor disse: “Bendito seja o Deus de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, que enviou o seu anjo e livrou os Seus servos, que confiaram Nele, pois não quiseram cumprir a palavra do rei, preferindo entregar o seu corpo, a servirem e adorarem a qualquer outro deus, senão ao seu Deus.” (Daniel 3: 28)
“Portanto, faço um decreto pelo qual todo povo, nação e língua que disser blasfêmia contra o Deus de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego seja despedaçado, e as suas casas sejam feitas em monturo; porque não há outro deus que possa livrar como este. Então, o rei fez prosperar a Sadraque, Mesaque e Abede-Nego na província da Babilônia.” (Daniel 3: 29-30)
O rei ficou de tal forma maravilhado com o que tinha acontecido, que não só reconheceu o livramento de Deus, como ainda exaltou os três amigos por terem confiado Nele e Lhe terem obedecido.
Obediência plena, só a Deus
Como vemos neste exemplo da própria Palavra de Deus, a resposta para a nossa questão inicial é clara. Sempre que as autoridades nos obriguem a fazer algo contrário às leis de Deus, não devemos obedecer às leis humanas. Mas só nessas condições.
Devemos ser sempre fiéis ao nosso Deus, mesmo que as autoridades nos queiram obrigar a fazer o contrário. Depois compete a Ele, mediante a Sua soberana vontade, livrar-nos ou não da situação em concreto.
Sejamos, pois, firmes e constantes na obediência às leis do Senhor!
“Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por Minha causa achá-la-á. Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma?” (Mateus 16: 25-26)
Crédito de imagem: Guilherme Stecanella