
“Mestre, não te importa que pereçamos?” (Marcos 4: 38)
As nossa vidas estão repletas de momentos altos e baixos. Circunstâncias agradáveis, e outras menos felizes. Alturas em que nos rimos e alegramos, e outras em que nos sentimos abatidos e desanimados.
A pandemia tem sido assim, um período que nos tem posto à prova. Uma e outra dificuldade tem surgido diante de nós. E como temos reagido perante cada uma?
Sabemos que é precisamente nos momentos menos positivos das nossas vidas que somos estimulados a parar, a refletir e a nos reajustar. Por isso mesmo lemos em Eclesiastes, “melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração.” (7: 3). A crise produz mudança. Mas que mudança tem ocorrido em cada um de nós?
Em Marcos 4:35-41 lemos um episódio que foi vivido por Jesus e pelos Seus discípulos, e que nos pode proporcionar reflexões úteis para momentos como este que vivemos durante esta pandemia.
Jesus tinha terminado de ensinar as multidões. O dia tinha sido longo. As curas e os ensinos de Jesus tinham despertado o interesse de numerosas multidões, que tinham vindo dos mais diversos locais, “da Galileia (…) da Judeia, de Jerusalém, da Idumeia, dalém do Jordão e dos arredores de Tiro e de Sidom” (Marcos 3:7-8). A heterogeneidade das multidões era imensa, e as necessidades eram muitas e variadas.
E Jesus tinha-as ensinado, através de muitas parábolas, “conforme a capacidade dos ouvintes. E sem parábolas não lhes falava; tudo, porém, explicava em particular aos seus próprios discípulos.” (Marcos 4:33-34)
Estava cansado. Desejava atravessar o mar da Galileia, para a outra margem, para procurar algum repouso.
Os discípulos, ouvindo isto, prontamente se disponibilizaram para despedir a multidão e satisfazer a necessidade do Mestre.
Naqueles últimos dias tinham tido a oportunidade de presenciar todos aqueles momentos operados por Jesus. Conhecido os problemas nas vidas daqueles atribulados, e visto a forma como o Mestre as curava e satisfazia. Problemas aparentemente sem solução, eram facilmente resolvidos pelo poder da Sua Palavra. Os seus corações estavam cheios e alegres.
Assim seguiram no barco com Jesus, atravessando para a outra margem.
E quando menos esperavam, uma grande tempestade se levantou. As ondas eram tantas que o barco estava a encher-se de água. Os discípulos lutavam, tentando manter-se seguros. Aqueles homens que até há bem pouco tempo tinham presenciado as enormes tempestades nas vidas de tantas pessoas, estavam agora eles mesmos a viver a sua. E as dúvidas assaltaram as suas mentes. Olharam em seu redor, e não viram a Jesus. Ele dormia, nem mesmo a tempestade o acordava.
E disseram: “Mestre, não te importa que pereçamos?” (Marcos 4: 38)
Os discípulos tinham estado com Jesus durante todo aquele tempo. Tinham presenciado todas as Suas curas, ouvido todos os Seus ensinos. Tinham observado toda a Sua autoridade, tanto no campo físico como no campo espiritual (Marcos 2: 1-12). E duvidaram.
Tinham estado com Jesus, mas não O tinham visto verdadeiramente.
Jesus era o Cristo, Aquele que tinha sido prometido pelo Pai. O Salvador. Como não se importava? Era exatamente porque se importava que Ele estava ali, que Ele tinha vindo. Encarnado. Porque os amava e não desejava que perecessem. Morressem eternamente.
Mas quantas são as vezes que, também nós, perante as tempestades da vida, duvidamos do cuidado e do amor de Deus? Duvidamos da Sua presença e do Seu poder? E manifestamos a nossa pequena fé.
Mas Jesus é Deus. Aquele que tem todo o poder sobre toda a criação. Aquele que pode repreender o vento e dizer ao mar “Acalma-te, emudece!” (Marcos 4: 39), e os elementos naturais cessarem imediatamente à ordem do Seu Criador. Um problema aparentemente sem solução, com um fim certo aos olhos dos discípulos, foi plenamente resolvido sem dificuldade. “E fez-se grande bonança” (v. 39).
“Por que sois assim tímidos?! Como não tendes fé?”, questiona-os Jesus. E questiona também a cada um de nós.
Este episódio, descrito por Marcos, termina com os discípulos “possuídos de grande temor”, perante toda aquela manifestação de poder. E “diziam uns aos outros: Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?” (Marcos 4: 41)
A surpresa na voz destes homens foi evidente. Estavam perante a verdadeira identidade de Jesus, Aquela que eles próprios não haviam reconhecido devidamente. E o temor foi imediato. A única coisa mais aterrorizante do que ter uma tempestade fora do barco era ter Deus dentro do barco!
E tu? Tens reconhecido Jesus devidamente? A Sua identidade e soberania? Mesmo na tempestade que é esta pandemia? Ou ela tem trazido à luz a tua pequena fé?
A resposta é fundamental. Jesus mesmo questiona: “Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou?” (Mateus 16: 15) Consegues responder como Pedro “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.” (v. 16), e perceber todas as suas implicações?
Neste episódio vemos a reação dos discípulos perante a tempestade e a sua ausência de fé. Mas vemos também o contraste da resposta de Jesus. Ele simplesmente dormia. Lembra o salmista quando escreve: “Em paz me deito e logo pego no sono, porque Senhor, só tu me fazes repousar seguro.” (Salmo 4: 8) A verdadeira paz e segurança só no Senhor poderão ser alcançadas.
A pandemia em que vivemos parece uma tempestade sem fim. Fora do nosso controlo. Mas lembra-te, não certamente do controlo do nosso Deus. Jesus é soberano Senhor sobre toda a criação!
Por isso, deixa que Ele também entre no teu barco, que Ele seja o teu refúgio. Só Jesus te pode salvar da tempestade permanente que é uma vida separada de Deus.
“Vós sois cá de baixo, Eu sou lá de cima; vós sois deste mundo, Eu deste mundo não sou. Por isso, Eu vos disse que morrereis nos vossos pecados; porque, se não crerdes que Eu Sou, morrereis nos vossos pecados. Então, lhe perguntaram: Quem és tu? Respondeu-lhes Jesus: Que é que desde o princípio vos tenho dito?” (João 8:23-25)
Crédito de imagem: Marcus Woodbridge